Conheci o Desenho Humano em março de 2020 e estou no meu primeiro ano de descondicionamento. Eu que me julgava familiarizada com a maioria das ferramentas de autoconhecimento, terapias alternativas e conhecimentos esotéricos, nunca tinha ouvido falar daquilo. Foi pela mão do João que descobri o meu Desenho Humano quando, pouco depois de me conhecer, logo me pediu a minha data, hora e local de nascimento. Desde aí tomei consciência da informação e tenho vindo a experimentar com ela.
Gostava de dizer que está a ser um processo simples, mas nem por isso. Há partes que fizeram logo sentido e outras que nem tanto. São 7 anos de descondicionamento até podermos ser quem é suposto sermos. Isto na melhor das hipóteses porque é impossível fugirmos ao condicionamento constante.
O Meu Primeiro Encontro Com O Meu Gráfico
O meu primeiro pensamento quando vi o meu gráfico foi… Que coisa esquisita é esta?
Reconheci de imediato alguns pormenores: os símbolos dos planetas e uma representação mais distorcida dos chacras. De resto, não percebi mais nada.
Por esta altura gostava de acrescentar que sou uma pessoa com uma grande dualidade: apesar de ter a mentalidade muito aberta e frequentemente conectar-me com o lado espiritual das coisas, sou imensamente cética. Gosto de conhecer este tipo de “ciências ocultas” mas sempre de um lugar de aprendizagem e pouca fé.
Os sistemas que generalizam as pessoas pelo mero acaso da data e local de nascimento fazem-me confusão, mas há muito que a astrologia a sério (não aquela dos jornais) me fascinava. O meu Sol em Virgem e Ascendente em Peixes são óbvios para quem me conhece minimamente (eu falei em dualidade, não foi?). Por outro lado, há uns anos atrás deparei-me com os 16 Tipos de Personalidade Myers-Briggs que me fez compreender por que é que eu parecia funcionar de modo tão diferente dos outros (INFJ!).
Sendo assim, o gráfico de Desenho Humano, apesar de me parecer complexo, ia ser sempre algo que ia tentar entender ao mesmo tempo que desconfiava.
A minha primeira pergunta: Qual é o meu Propósito?
Há anos que me debato com isto. O que é que eu faço aqui? Entre ideias grandiosas que vim salvar o mundo ou ser algum raio de luz, tenho uma vida que sinto que reflete bem menos do que aquilo que sou. É como se andasse sempre pelo caminho errado. Então, qual é o meu caminho?
Uau! Fantástico! Finalmente, um sistema que me vai dar uma resposta exacta!
A resposta foi desapontante…
Além de ter sido curta, porque no geral a Cruz da Encarnação não é por onde começa uma leitura de Desenho Humano, e o João deixou logo isso bem claro, só me trouxe mais desespero.
Parece que assim, em linhas curtas, o meu Propósito é servir os outros. Logo me veio à cabeça a imagem de um empregado de mesa, uma enfermeira, um pajem… Tudo isso estava longe da minha pouco impressionante carreira e percurso académico como escritora, tradutora e professora de Inglês.
Depois daí o resto de conhecimento que adquiri não foi particularmente surpreendente. Já sabia que tinha muita energia quando estou a fazer aquilo que realmente gosto (Geradora), que sinto muita pressão de todos os lados (Raiz e Coroa abertos), que sou sensível e empática (Plexo Solar aberto), que sou uma pessoa com ideais bem definidos e força de vontade (Centro G e Coração definidos), que sou muito inspirada pelo que me rodeia e que falar é um problema para mim (Garganta Indefinida).
Geradora Sacral – O Que É Isso?
É fácil prendermo-nos nos detalhes visuais. Por que é que um centro está colorido e outro não? A verdade é que a informação mais relevante no Desenho Humano não está visível a olho nu.
Entender a minha Autoridade (Sacral) foi o que mais teve impacto, e ainda tem. Dizerem-me que eu tenho um sistema automático de saber o que quero e não quero não me surpreendeu. Afinal de contas, eu andava há uns anos numa jornada de redescobrir a minha intuição e aprender a ouvi-la. Achava que todos tinham aquilo, aquela resposta sacral que chamam em inglês de “gut feeling”. Parece que não, que a maioria das pessoas tem, mas nem todos. Essa foi a primeira surpresa. A segunda surpresa foi descobrir que eu devia ouvir essa resposta sacral, apenas e só, para tudo.
Fui uma pessoa muito condicionada. Naturalmente instintiva e emocional, esse foi um lado rejeitado desde criança dentro do meu seio familiar. Uma menina bonita não chora. Pensar tornou-se o meu passatempo preferido.
O meu Sacro nunca se calou mas eu aprendi a ignorá-lo. Afinal, o que é que o Sacro sabe da vida? Tantas vezes me dava respostas que não faziam sentido. Ele gritou comigo para eu não mudar de cidade, mas como se a cabeça dizia que ia ser melhor em todos termos: emocional, financeiro, familiar?
Posso assinalar inúmeras vezes em que fiz isto. Ignorei o Sacro e racionalizei tudo. Não? Não porquê? O Sacro não tem lógica porque está ligado à nossa energia pura. Vou em mais de um ano de descondicionamento e ainda estou a aprender que pura e simplesmente seguir o Sacro está correcto, mas a mente luta e estrebucha. Sinto culpa e continuo a dizer muitos sins que deviam ser nãos para agradar os outros, o que se agrava quando a minha porta do Sol é a 6 no meu Plexo Solar aberto. Eu não existo só para servir os outros, mas para agradá-los de forma a manter a harmonia.
Um Ano a Experimentar Com a Minha Estratégia e Autoridade
Foi um alívio descobrir o meu Sacro e poder dizer não a uma proposta de trabalho com mais confiança (mas não menos culpa!), o pior foi descobrir a minha Estratégia. Esperar para Responder? Como assim?
Ficar sossegada no meu canto à espera que as oportunidades me venham cair no colo? O quê?! Isso não é para mim. Eu tenho o Coração Definido, o G também. Não me falta vontade, energia ou ideias para começar coisas. Além disso, já falei que a minha Porta do Sol é a 6? Não preciso de ninguém! (Ou queria não precisar!). Como aceitar isso? Eu cresci na base do “tens que ir à luta, não podes desistir, não podes ir abaixo.” Ainda por cima sou mulher, tinha que fazer e tinha que fazer em dobro em quantidade e qualidade para competir com os homens. Foi o que a minha mãe me disse.
Passado um ano o “Esperar Para Responder” ainda me está atravessado na garganta. Penso em tantas iniciativas próprias que já tive na minha vida. Nas tantas coisas que “forcei” para fazer acontecer. Se olhar para trás a minha vida está cheia disso. Até o meu casamento foi “forçado” e eu continuei a “forçar” durante anos até deixar de “forçar” e ele desmoronar. A minha carreira profissional tem saltado de projeto individual em projeto individual. Ideias que me surgem vindas de dentro e não necessariamente como resposta ao exterior.
Todos os projetos onde tive mais sucesso vieram de colaborações ou surgiram como resposta a algo. É difícil ficar sentada à espera que a pergunta surja, vai contra cada pensamento meu e para meter mais achas na fogueira tenho os meus dois centros de pressão abertos, sobretudo a minha Raiz a gritar com o meu Sacro: Então, não fazemos nada?!
Ando a aprender a cultivar a paciência e a acreditar que se continuar a seguir os desejos do meu Sacro, as perguntas vão surgir, sobretudo aquelas em que ele vai gritar “Sim” aos saltinhos e a fazer a festa toda.
Observando a Minha Definição e Perfil
A minha Definição Partida também me trouxe algumas lições importantes. Voltemos ao tema da dualidade… Eu sempre quis ser independente, não precisar de ninguém, assim como alguém com Definição Singular, mas nunca foi isso que senti.
Mais uma vez, fui muito condicionada para não ceder a sentimentalismos, para não levar as amizades tão a sério e a não ser dada a paixões. A verdade é que a vida toda eu tenho procurado conexão em todas as minhas relações. Por norma, elas não vão ao nível que eu preciso (aquele Sol na Porta 6 de novo!).
No Perfil voltei a encontrar este tema. Num Perfil 5/2 está patente a minha insatisfação com a minha Cruz da Encarnação. “Servir os outros? Eu quero salvar o mundo!” A Linha 5 com o meu G e Coração Definidos fazem de mim uma pessoa capaz de lutar muito pelo que acho justo para o bem-estar de todos. É fácil para mim envolver-me com causas humanitárias: paz no mundo, que nenhuma criança ou adulto no mundo não saiba o que é ter acesso a comida, água potável e serviços de saúde, o direito à individualidade… Tudo isto são coisas que sempre me preocuparam.
Não posso dizer que ande por aí na linha da frente dos protestos porque… Linha 2! Então funciono de uma forma mais micro, ajudando quem está mais perto, trazendo estes assuntos à tona e sobretudo, através da forma como educo a minha filha e como estou na vida. Sinto a responsabilidade de quebrar padrões geracionais que é algo do qual não falamos o suficiente: a coragem de quebrar ciclos e a solidão emocional que ela acarreta. Estás a remar contra um oceano de gerações. Tenho um grande respeito pela individualidade e liberdade de cada um e tenho sofrido bastante nestes últimos anos ao ver o mundo que eu tanto quero salvar a polarizar-se cada vez mais.
A Linha 5 manifesta-se ainda mais pela forma que os outros projectam em mim. Desde pequena que fui a psicóloga de muitos amigos que me pediam opiniões e conselhos mesmo em áreas em que eu era bem mais inexperiente que eles. É fácil para os outros virem pedir-me ajuda e é fácil para mim dá-la sendo Linha 5, Definição Partida e Plexo Solar aberto. A Linha 2, porém, não deixa o oposto acontecer tão facilmente, sobretudo com a Porta 6 no Sol. Sou Eremita que se isola, mesmo tendo fases em que quero ir para o meio do mato.
O outro lado da Linha 2 são os talentos naturais. Isso foi das primeiras coisas que o João me disse:
“Tens um dom natural!”
“Ai sim? Vê lá aí qual é?”
A minha aptidão para a escrita, eu costumo dizer, já nasceu comigo. Ainda eu não sabia as letras e já escrevia histórias na minha cabeça com as minhas Barbies. Apesar de ter estudado a arte de escrever, é sempre muito natural para mim pegar num papel escrever qualquer coisa.
Há muitas coisas que me surgem naturalmente e eu não sei explicar porque não tive um processo de aprendizagem e não sei explicá-las.
Por exemplo, não me peçam receitas dos meus pratos.
A Minha Garganta Indefinida
A minha vida é feita de histórias que oscilam entre o não falar ou o falar de modo errado. Eu costumo brincar que eu só tenho dois tons de voz: inaudível ou gritar.
Na escola os colegas chateavam-me (Fala mais alto!) e os Professores queixavam-se que eu, aluna brilhante, nunca colocava o dedo no ar.
Falar não é o meu departamento. Eu é mais escrever. Isto não quer dizer que não saiba comunicar. Eu sei. Com muita clareza até. O problema é a pressão que sinto para falar.
Imaginemos a seguinte situação. Eu tímida e reservada por natureza, num date com alguém que não mete muita conversa. Ele fica bem no silêncio e eu começo a pensar em coisas interessantes para perguntar e vou fazendo a conversa acontecer vinda do lado dele porque eu sinto que tenho de falar. Alguém tem de falar, certo?
Ou quando alguém faz algo ou diz algo do qual discordo. A minha primeira reacção é dizer algo quando ninguém me perguntou nada. Habitualmente viro a conversa para questões sociais e dou azo a discussões só porque quero (sinto pressão) para falar e procuro a conexão.
Neste último ano tenho andado a aprender a ficar mais calada. A falar só quando sou convidada, usando a minha Estratégia cuidadosamente.
Falar menos e responder mais.
O resultado tem sido positivo. Tenho tido menos chatices.
Ficar na minha não é assim tão mau quanto pensava.
Conhecendo os Aspetos Mais Avançados Do Meu Desenho Humano
O meu Perfil é talvez a segunda parte que mais me interessou no meu Desenho Humano e à qual tenho prestado atenção no papel de espectadora com mais interesse. A primeira parte que mais me interessou foi… o Sol na Porta 6.
Não soube muito sobre a Porta 6 quando descobri o meu Desenho Humano, havia tantas Portas e dois canais. Foi mais tarde que me saltou à vista. A Porta 6 é conhecida como a Porta da Fricção ou o Medo da Intimidade. Do outro lado da Porta 6, e sempre chamando por ela está a Porta 59 da Sexualidade e juntos formam o canal da Procriação
A Porta do Sol é a porta mais importante e com energia mais constante nas nossas vidas. É por isso que é importante vermos a sua presença no gráfico e como ela se enquadra em tudo o resto. Não foi por acaso que esta Porta fez um clique em mim
A minha procura desesperada até por conexão vem daí. Depois vem daí também a minha resistência a abrir-me completamente. Poucas pessoas me conhecem de verdade. Ora o que se gera quando se quer conexão mas não se está disponível para se ser vulnerável? Fricção. As minhas relações ficam pela metade porque eu sinto que ninguém vai a fundo comigo como eu vou com elas. Ser vulnerável não é fácil para mim. Na verdade, ser antagonística é mais fácil, guardar o jogo, atirar à cara depois. Ninguém me quer!
Só não consigo mesmo é fechar o coração porque a 59 vai estar sempre lá a chamar por mim.
Vejo a Porta 6 regularmente e a surgir de forma automática na minha vida. Até agora não tenho conseguido fazer muito senão observar como ela se apresenta. Ainda sinto muita necessidade de causar Fricção porque é isso que conheço. Estou frequentemente a testar as pessoas para ver se elas ainda “estão ali”. Tem sido interessante observar o meu relacionamento com pessoas com a Porta 59 ativa ou até o canal inteiro e muitas têm surgido na minha vida.
Gostava de experimentar mais e conhecer melhor o poder desta porta.
O Que Ainda Não Fez Sentido
Quando o João me disse que a minha aura de Geradora é magnética, eu ri-me. Eu sou o tipo de pessoa que entra num sítio e ninguém dá por ela. Recentemente fiz uma formação em que estávamos 12 pessoas numa mesa redonda e o Formador pergunta se falta alguém, ao que alguém responde “Falta a Inês.” Eu respondo “Eu estou aqui.” Ao que me respondem que nem tinham dado por eu entrar. Okay. Mas eu estava literalmente ali. Podíamos dizer que foi um caso isolado, mas eu tenho um certo dom para a invisibilidade. Mesmo nas áreas onde brilhava, ninguém dava por mim. Quando muito sempre senti o oposto. Voltando à minha Porta 6, sentia que repelia as pessoas. Tirando quando precisavam de mim. Alguém com aura magnética eu imagino como popular, com muitos amigos e relações. Talvez o nível de magnetismo de uma geradora seja limitado com uma Linha 2 no Perfil mas com a Porta 34 ativa, dava para pensar que o meu magnetismo seria quase impossível de escapar.
Também não tenho experimentado muito com os canais. O meu 26-44 é conhecido como o canal dos vendedores. Ainda que reconheça que tenha alguma capacidade para adaptar o meu discurso à pessoa com quem estou, duvido imenso da minha capacidade de convencer alguém a fazer, ser ou adquirir algo. Na verdade, a minha Garganta indefinida faz com que eu seja uma nódoa na expressão oral.
Quanto ao 10-34, o chamado canal do magnetismo, é suposto ser capaz de inspirar os outros apenas sendo nós mesmos. A minha experiência com isto é zero. Eu sempre me destaquei dos outros mas pelas “piores” razões. Desde me ter tornado vegetariana aos 14 anos até à minha relação íntima com o yoga, não pareço inspirar ninguém. As minhas escolhas pessoais ou profissionais são alvo de fortes críticas depreciativas. Para vos dar a mais pequena ideia, sou autora de 3 livros publicados e ninguém da minha família sequer se deu ao trabalho de os ler todos. Acho que ainda estou para conhecer onde posso realmente inspirar alguém simplesmente fazendo o que gosto.
Neste sentido, ainda não consegui ver os meus canais em acção ou sentir-me empoderada por eles. Talvez isso venha mais tarde.
A Expectativa do Meu Segundo Ano
Sou cética, lembram-se?
Não tenho grandes expectativas que o Desenho Humano vá mudar a minha vida da forma que desejaria, mas existe um grande empoderamento em vermos legitimado quem sentimos que somos e nunca tivemos oportunidade de ser, seja por medo ou condicionamento exterior.
O meu segundo ano (e já lá vai um quarto dele) está a ser cheio de desafios pessoais e tenho recorrido ao Desenho Humano, ou mais concretamente à minha Estratégia e Autoridade, para tomar decisões. Isto quer dizer que me tenho sentido menos pressionada pelo exterior para fazer o que é certo para uma Geradora com os centros de pressão abertos. A sessão e acompanhamento posterior com o João têm-me permitido reconsiderar diversos aspetos da minha personalidade que não julgava relevantes.
Tenho também aprendido a funcionar mais com o coração do que com a cabeça e espero no meu segundo ano continuar a aprender que a minha mente não deve ser quem toma as decisões e que nem tudo tem que ser exaustivamente racionalizado. Entretanto, vou aprendendo mais sobre Desenho Humano e continuando a experimentar. Espero também no meu segundo ano conseguir explorar mais o poder das minhas portas e conhecê-las melhor.
Há tanto para descobrir e ainda agora eu comecei. A sessão com o João e o acompanhamento que tenho feito com ele abriu-me os olhos para me dar mais liberdade para ser quem realmente sou e se isso for tudo o que o Desenho Humano faz a uma cética como eu, já é uma vitória